Panorama

Nunes assina decreto para rescindir contratos com Transwolff e UPBus, investigadas por ligação com o PCC

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), assina nesta sexta-feira o decreto que dá início ao processo para rescindir os contratos com as empresas de ônibus Transwolff e UPBus, alvos de investigação por envolvimento com o crime organizado. A publicação do ato será feita no Diário Oficial da Cidade deste sábado.

De acordo com Nunes, as duas empresas serão notificadas e terão 15 dias para apresentar defesa. Caso não convençam a prefeitura, será iniciado o processo para fazer novas contratações. O prefeito afirmou nesta sexta-feira que as manifestações já apresentadas pelas empresas “não foram suficientes” para que a prefeitura encerrasse a intervenção que teve início em abril, quando foi deflagrada a Operação Fim da Linha.

A Transwolff opera na Zona Sul da capital paulista, e a UPBus, na Zona Leste. As empresas transportam cerca de 700 mil passageiros diariamente e receberam da prefeitura mais de R$ 800 milhões no ano passado.

De acordo com as investigações do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), a UPBus era utilizada para lavagem de dinheiro por sócios ocultos ligados ao PCC, dentre eles Silvio Luis Ferreira, (o “Cebola”), Anselmo Becheli Santa Fausta (o “Cara Preta”), e Ahmed Hassan Saleh (o “Mude”). Foragido da Justiça e apontado como integrante da chamada “sintonia geral” do PCC, setor da facção responsável pelo tráfico, “Cebola” injetou mais de R$ 20 milhões na empresa no período de 2014 a 2021, elevando o capital da companhia para habilitá-la a ganhar a licitação da prefeitura. O presidente da UPBus, Ubiratan Antônio da Cunha, foi preso na semana passada.

Já a Transwolff coleciona reclamações e detém contratos para operar mais de 100 linhas de ônibus na capital. Seu fundador, Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o “Pandora”, foi alvo de processo em 2006 por supostamente ter ajudado no resgate de um preso ligado ao PCC e hoje responde às acusações da Operação Fim da Linha em liberdade. O contrato da empresa com a Prefeitura de São Paulo foi assinado em 2019 e é válido por 15 anos.

Aliado de Nunes, o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União), afirmou no início do mês que acredita na inocência de “Pandora”, para quem aluga um terreno na Zona Sul onde a Transwolff instalou sua garagem.

— Não acredito que o Pandora esteja envolvido com o crime organizado. Não acredito que tenha ligação do PCC com a Transwolff. Se eu tivesse alguma dúvida de envolvimento dele com o PCC, eu não teria me aproximado dele. Se tem um lá (na Transwolff), que a polícia vá, investigue e prenda. Toda e qualquer investigação deve prosseguir, até que se prove tudo — disse Leite em entrevista ao “Roda Viva” (TV Cultura).

Antes de passar a defender a rescisão dos contratos com as empresas investigadas, Nunes chegou a visitar a garagem da UPBus, um dia após a Operação Fim da Linha, e a elogiar a empresa.

— Queria aproveitar aqui e parabenizar, porque quando a gente tem uma concessionária que presta um serviço, que atende o passageiro, que não tem atraso… (…) A gente tem que tratar as coisas com muita seriedade — afirmou Nunes na ocasião.

Nomeado interventor na UPBus, Wagner Chagas Alves disse na mesma visita que os resultados apresentados são “satisfatórios” e que a empresa é “maravilhosa”.

Sob a intervenção da prefeitura, as queixas sobre operação, frota e tripulação da Transwolff diminuíram em cinco meses, enquanto as reclamações contra a UPBus aumentaram.

Ônibus da Transwolff em frente à sede da prefeitura. Empresa tem contrato de 15 anos com a administração
Ônibus da Transwolff em frente à sede da prefeitura. Empresa tem contrato de 15 anos com a administração — Foto: Divulgação/Transwolff

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