Chineses enfrentam excesso de oferta do alimento, o que levou os preços da carne doméstica caírem. Vendas de carne bovina brasileira para nação asiática subiram 12,7% neste ano
A China anunciou nesta sexta-feira o início de uma investigação sobre as importações de carne bovina, com objetivo de verificar se um aumento nas exportações para o país prejudicou produtores locais. Após o anúncio, o governo brasileiro afirmou que buscará demonstrar que a carne enviada ao país asiático “não causa qualquer tipo de prejuízo à indústria chinesa”. A investigação impacta diretamente o Brasil, um dos principais fornecedores de carne ao país.
Em comunicado nesta sexta-feira, os ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e das Relações Exteriores do Brasil informaram estar cientes da investigação e que contribuirão com informações que forem solicitadas.
“Não há, em princípio, a adoção de qualquer medida preliminar, permanecendo vigente a tarifa de 12% ‘ad valorem’ que a China aplica sobre as importações de carne bovina”, afirmou o governo brasileiro.
A investigação, segundo o Ministério do Comércio chinês, deverá analisar as importações de carne bovina entre 2019 até o primeiro semestre de 2024. Nesse período, o houve aumento das compras da proteína, causando um golpe na indústria local.
Maior importador e consumidor de carne do mundo, a China tem enfrentado excesso de oferta do produto, o que levou o preço da carne doméstica despencar. A investigação, lançada a pedido de associações da indústria local, deve terminar em até oito meses, mas pode ser prorrogada em circunstâncias especiais, segundo o governo chinês.
Ações de frigoríficos caem com a notícia
A China consolidou-se nos últimos anos como o maior parceiro comercial do Brasil em proteínas animais. Em 2024, as exportações brasileiras de carne bovina para o país somaram mais de 1 milhão de toneladas, representando aumento de 12,7% em relação ao mesmo período de 2023.
“Durante os próximos meses, o governo brasileiro, em conjunto com o setor exportador, buscará demonstrar que a carne bovina brasileira exportada à China não causa qualquer tipo de prejuízo à indústria chinesa, sendo, pelo contrário, importante fator de complementariedade da produção local chinesa”, completa a nota do governo brasileiro.
Algumas investigações anteriores da China contra outros países resultaram em impostos elevados. Em 2020, o país impôs tarifas antidumping sobre a cevada australiana.
Qualquer medida de salvaguarda tomada pelo maior comprador de carne bovina do mundo pode prejudicar os principais exportadores, o que inclui, além do Brasil, Argentina e Austrália.
As ações das maiores empresas de processamento de carne do Brasil, incluindo JBS SA, Marfrig Global Foods SA e Minerva SA, caíram com a notícia.
‘Carne brasileira é de alta qualidade’, diz setor
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) disse acompanhar com atenção a investigação aberta, e que “a carne bovina brasileira exportada para a China é de alta qualidade e segue rigorosos padrões de sanidade e segurança”.
“Como grandes parceiros comerciais, estamos comprometidos em cooperar com as autoridades chinesas e brasileiras, colocando-nos à disposição para fornecer quaisquer esclarecimentos e participar ativamente do processo de investigação”, declarou a entidade. (Com Bloomberg News)
